Diário de bicicleta na África
Brasileiro cruzou dez países no continente africano, entre eles os árabes Sudão e Egito. Livro mostra as aventuras em 12 mil quilômetros.A profissão, a bicicleta e a África são as três “paixões” do jornalista Alexandre Costa Nascimento. Há quatro anos ele decidiu unir as três em um desafio: percorrer 12 mil quilômetros de bicicleta pela África e relatar essa aventura. O resultado é o livro “Mais que um leão por dia”, que pode ser encontrado nas livrarias a partir deste mês. Nele, Nascimento conta os momentos mais emocionantes, perigosos e desafiadores dessa aventura.
“Sou jornalista, tenho um blog que se chama ‘Ir e Vir de Bike’ que é a minha pauta. Sempre pesquiso muito sobre ciclismo e, em uma dessas pesquisas, encontrei o site do ‘Tour d’Afrique’, que é uma viagem de bicicleta pelo continente africano organizada por uma empresa canadense desde 2003. Eu também sempre me interessei muito pela África e, naquele momento em que conheci o site, quis juntar as minhas três paixões”, diz o jornalista.
Essa “descoberta” ocorreu em 2011. Em agosto de 2012 ele começou a planejar a viagem, foi em busca de patrocinadores e também de financiamento de pessoas interessadas no seu projeto na internet, além de aplicar dinheiro do próprio bolso. Com os R$ 55 mil necessários para colocar a ideia em prática, Nascimento embarcou para a África e se tornou o primeiro brasileiro a participar deste projeto.
Entre os dias 11 de janeiro de 2013 e 11 de maio de 2013, ele pedalou 12 mil quilômetros. A largada foi no Cairo, no Egito, e a linha de chegada foi na Cidade do Cabo, na África do Sul. De norte a sul da África, Nascimento passou por Sudão, Etiópia, Quênia,Tanzânia, Malauí, Botsuana, Zâmbia e Namíbia. Ele também esteve no Zimbábue, mas a visita ao país não era parte do roteiro do Tour d’Afrique.
Houve dias em que ele pedalou mais de 200 quilômetros. Em outros, Nascimento e os outros 54 ciclistas se depararam com elefantes, dormiram nas mesmas savanas dominadas por leões, enfrentaram temperaturas extremas: de zero graus a 43 graus. Pedalaram na lama, enfrentaram tempestades de água e de areia, além de insolação, torções, ferimentos e equipamentos quebrados.
“O segredo deste desafio é não encarar os imprevistos como um problema, porque eles sempre aparecem. Pode ser um pneu furado, o calor forte, uma subida íngreme. É parte da experiência enfrentar o inesperado. O nome do livro (‘Mais que um leão por dia’) vem daí”, diz.
Sudão e Egito, os dois países árabes desta viagem, reservaram ao ciclista alguns dos momentos mais marcantes. “Eu estava pedalando em direção a Luxor, no Egito, quando um caminhão que transportava cana de açúcar e pessoas trafegava na mesma via que eu. Quando este caminhão se aproximou de mim, em alta velocidade, uma das pessoas atirou uma cana de açúcar em mim. Desviei para não ser atingido, mas fui parar no meio da estrada. Em seguida, quase fui atropelado por uma van”, recorda.
Do Sudão, a recordação é melhor. “Eu e uma ciclista da Nova Zelândia paramos para descansar em um vilarejo no Sudão. Estava muito calor e não tínhamos água. Acho que o pneu da bicicleta dela estava furado. Uma mulher que passava por ali se aproximou de nós e nos deu a única garrafa de água que tinha. Uma água suja, do rio. Era o que ela tinha e ela dividiu conosco. Isso nos mostrou que quem tem tão pouco ainda se dispõe a ajudar. Em outras ocasiões, as pessoas fizeram diversos gestos de ajuda. Os africanos são muito hospitaleiros”.
Escrever o livro com estes e muitos outros relatos foi ideia que surgiu antes mesmo que Nascimento partisse. “A editora (do livro) ficou sabendo e se interessou. Fui com contrato praticamente fechado”, disse. “Mais que um leão por dia” reúne imagens desta viagem, relatos do autor, dados socioeconômicos dos países visitados em um livro-reportagem. Parte da renda arrecadada com as vendas será doada à TDA Fundation, que organiza o Tour d’Afrique, e utilizada para comprar bicicletas. Estas, por sua vez, serão doadas aos africanos.
Nascimento continua a se dedicar ao blog, em que discute diversos temas relacionados ao uso das bicicletas como transporte. Desde os problemas enfrentados nas grandes cidades, como a sinalização e o trânsito, até questões globais, como os benefícios ao meio ambiente. O blog, porém, divide espaço com outro sonho do jornalista. De percorrer a Ásia. De bicicleta.
“Tem a rota da seda, entre Pequim (na China) e Istambul (Turquia). Ela passa por Rússia, Mongólia, Uzbequistão, Turcomenistão, Quirguistão, Cazaquistão e Irã, antes de terminar na Turquia. Ela é realizada a cada dois anos e a próxima será em 2016”, anuncia.
Ficha técnica:
Livro: Mais que um leão por dia
Autor: Alexandre Costa Nascimento
Editora: Nossa Cultura
Páginas: 448
Preço: R$ 46,50. Informações: www.nossacultura.com.br/mais-que-um-leao-por-dia.html