Youtuber leva arqueologia egípcia a mais de 14 mil pessoas

Qua, 13/03/2019 - 15:01

 

Mestre em Arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe, Márcia Jamille é natural de Aracaju e produz conteúdo sobre o Egito Antigo há mais de 10 anos.

Thais Sousa/ANBA

Para falar de arqueologia e Egito Antigo a brasileira Márcia Jamille criou seu próprio canal no Youtube, o Arqueologia Egípcia, que hoje já ultrapassa a marca de 14.400 inscritos. Bacharel e mestre em Arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Jamille é natural da capital sergipana, Aracaju. Para se aprofundar nos estudos do Egito, ela teve que usar as ferramentas que tinha à mão. “Não tínhamos disciplina voltada para a área de Egiptologia, então fiz como muitos estudantes fazem, conversei com um professor para me orientar e juntei a área dele (Arqueologia de Ambientes Aquáticos) e o estudo do Egito Antigo”, disse ela em entrevista à ANBA.

Se durante a graduação o acesso às informações era restrito, na infância da youtuber o conteúdo era ainda mais escasso. “Quando eu era criança já achava a Arqueologia interessante, e fascinante aquele lance de escavar com cuidado e saber mais sobre o nosso passado. Porém, os únicos documentários que passavam na TV eram sobre Arqueologia Bíblica ou sobre a Pré-História da Europa. Eu nem imaginava que existiam estudos em Arqueologia no Brasil. Quando alcancei 13 anos, a professora de História passou um documentário sobre o Egito Antigo. Foi simplesmente amor à primeira vista”, declarou a arqueóloga.

Aos 31 anos, a jovem guarda até hoje recordações da paixão pelo Egito. “A minha infância foi muito rica neste sentido. Eu lembro, por exemplo, da minha mãe voltando do trabalho e trazendo revistas sobre o Egito Antigo. Tenho tudo guardado ainda”, contou. E da menina que guardava recortes ela passou a ser produtora de conteúdo. Há mais de dez anos, Jamille criou o site Arqueologia Egípcia, e em 2014 passou a abastecer um canal no Youtube de mesmo nome. Em 2018, o canal no Youtube passou a fazer parte do ScienceVlogsBrasil, selo que atesta a qualidade da divulgação científica no Youtube. Jamille também participou do concurso NextUp, onde os vencedores recebem treinamento de uma semana para criadores de conteúdo nos YouTube Spaces. “Duas grandes vitórias para a divulgação científica da Arqueologia na internet”, afirmou ela.

Hoje, a arqueóloga se dedica aos espaços na internet em tempo integral. “Trabalho apenas com os conteúdos do canal e criando palestras ou aulas on-line”, contou ela que, ainda assim, se mantém pesquisadora associada do Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos ligado à UFS.

Arqueologia Aquática

Para estudar o Egito, Jamille escolheu se aprofundar em Arqueologia Aquática. A youtuber explica que existem sítios submersos no Egito, especialmente na área da baía de Alexandria. Ainda dentro da Arqueologia de Ambientes Aquáticos é possível abordar inclusive os artefatos relacionados à água. “Embarcações são um exemplo, assim como divindades associadas com o meio aquático. No meu caso, quando eu estava em meados da graduação, comecei a perceber que os egípcios antigos tratavam a água de uma forma especial. Tratando as cheias do Nilo como algo mágico, criando altares para os deuses em forma de embarcações, enterrando barcos”, pontuou.

Já durante o mestrado ela foi bolsista e realizou pesquisas bibliográficas no laboratório, buscando gerar bibliografia em português para seu objeto de estudo. Lá, Jamille chegou a iniciar treinamento em mergulho científico, onde aprendeu algumas das principais metodologias para trabalhar em sítios submersos. “Até mesmo na tumba de Tutankhamon temos indícios desta ligação sagrada com a água, como a presença de remos na câmara funerária. É um tema realmente bem complexo, mas foi divertido realizar a pesquisa porque agora estávamos olhando a história egípcia desta nova perspectiva”, revelou.

Apesar de nunca ter ido ao Egito, a brasileira diz que está batalhando para atingir esse objetivo. “Não tem para onde correr, o estudo do Egito Antigo é a minha vocação, me sinto feliz falando sobre o assunto”, contou ela, que através do canal tem recebido mensagens de alunos e professores que tiveram acesso a seus vídeos. “Eu tenho uma ‘sala de aula’ com milhares de pessoas que são tanto as que visitam o site como as que assistem o canal. Posso não estar escavando no momento, mas ao menos posso estar acendendo a fagulha em alguém por aí que está começando a amar a arqueologia e quem sabe será uma futura ou futuro arqueólogo”, concluiu.

Veja aqui um dos vídeos do canal Arqueologia Egípcia