Cresce repressão marroquina contra o povo saarauí
Desde 8 de novembro, a polícia marroquina tem impetrado forte repressão ao Acampamento Gdeim Izik, a 18 quilômetros da capital ocupada do Sahara Ocidental (Norte da África), El Aaiun. A ação resultou, até o momento, em pelo menos 11 mortos, 723 feridos e 950 desaparecidos, entre os 20 mil saarauí que integravam o acampamento.
O ataque começou no domingo (7), quando as forças de segurança marroquinas fecharam o único acesso ao acampamento, formado por mais de 7 mil tendas. Cerca de 50 mil policiais cercaram o local e o invadiram na manhã da segunda-feira. As tendas foram queimadas e o povo saarauí agredido. Entre os mortos, estão duas crianças, uma de 7 anos e outra de 14.
Os saarauí estão acampados há um mês em El Aaiun em protesto pacífico à ocupação marroquina, que já dura 35 anos. Eles condenam a ocupação e denunciam as difíceis condições de vida a que estão sujeitos nos campos de refugiados e a delapidação dos recursos naturais do país. Este é o maior protesto realizado pelo povo saarauí desde a ocupação marroquina.
De acordo com o Ministério de Territórios Ocupados da República Árabe Saarauí Democrática (RASD), a polícia ainda incitou, na terça-feira (9), colonos marroquinos em El Aaiun a “derrubar, saquear e destruir” casas e tendas saarauís e golpear seus habitantes. Além disso, o Ministério informou que o exército marroquino tomou as ruas da capital e fez com que esses colonos também invadissem os bairros reconhecidamente de maioria saarauí.
Em El Aaiun, jovens saarauí, impedidos pelas forças marroquinas de se dirigirem ao acampamento, ergueram barricadas, atiraram pedras contra os colonos e queimaram pneus e automóveis.
Ainda, conforme a Confederação Sindical dos Trabalhadores Saarauís (CSTS), a polícia atacou o secretário-geral da organização, Eddie Sidi Ahmed Moussa, e sua filha. Ambos foram atacados por agentes marroquinos e colonos, que os ameaçaram de morte caso continuassem a praticar sua atividade sindicalista.
Cidade sitiada
A imprensa tem sido impedida por Marrocos de se dirigir à El Aaiun. Na segunda-feira, a companhia aérea marroquina Royal Air Maroc impediu treze jornalistas de órgãos de informação estrangeiros de viajarem de Casablanca para El Aiun para cobrir confrontos.
Ainda segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, uma “dezena de correspondentes estrangeiros foram impedidos” de chegar à capital nos últimos dias. Aqueles que tentam chegar ao Sara Ocidental pelas estradas são barrados por policiais em Tan Tan, no sul de Marrocos.
Segundo informações da imprensa local, a situação na capital saarauí é grave, devido à ação da polícia e de colonos marroquinos. Um toque de recolher foi decretado em El Aaiun, assim como nos bairros de Raha, Wifag, Elauda e Alamal. Nas ruas é constante a movimentação de um grande número de militares.
Solidariedade internacional
O Conselho Mundial da Paz (CMP), por meio da sua presidente, Socorro Gomes, manifestou seu “mais forte repúdio a mais esta agressão brutal contra o povo saarauí por parte do colonialismo exercido pelo Marrocos”.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lançou, nesta segunda (8), manifesto com uma convocatória direcionada a “todo o povo brasileiro, a participar ativamente da campanha internacional pelo reconhecimento da República Árabe Saarauí Democrática (RASD-Saara Ocidental)”.
Espanhóis realizaram um ato de solidariedade na segunda-feira (8) na Embaixada de Marrocos em Madrid. Em Portugal, o Bloco de Esquerda desafiou o governo a tomar uma atitude em relação à questão do Sahara Ocidental da mesma forma que agiu na época do massacre de Santa Cruz, em Timor-Leste, quando mobilizou a comunidade internacional sobre a situação.
O objetivo das variadas manifestações de solidariedade é garantir uma intervenção imediata da Organização das Nações Unidas (ONU) em defesa da população civil que sofre ataque militar.
Desde El Aaiún, o ativista saarauí, Brahim Ahmed, afirmou à Rádio del Sur que “a missão da ONU que está no Sahara Ocidental não tem assumido suas responsabilidades. É cúmplice do acontecido, porque está vendo desde o primeiro dia a magnitude da repressão contra o acampamento da dignidade e não enviou nenhum informe Pa organização até o momento em que começou o massacre”.
A ativista Aminetu Haidar lançou um apelo ao governo português, recentemente incorporado ao Conselho de Segurança da ONU, para que mobilize a comunidade internacional a respeito da situação vivida pelos saarauí.
“O Conselho de Segurança da ONU tem de exercer pressão sobre Marrocos para que respeite os direitos internacionais e o direito legitimo do povo saarauí à auto-determinação”, defendeu Haidar, que está em Portugal desde a segunda-feira para receber uma medalha por sua atuação na luta pela independência do Sahara Ocidental.
Negociações
A polícia marroquina cerca o acampamento desde seu início, em 10 de outubro. No entanto, a invasão se deu somente no início desta semana, quando estavam previstas para serem iniciadas em Nova Iorque (EUA) as negociações entre delegações do Marrocos e da Frente Polisário, movimento que luta pela independência do Saara Ocidental.
Por conta das ações violentas das forças marroquinas, o Polisário indicou que só iniciará as negociações se houver um gesto do Conselho de Segurança da ONU sobre a resolução do conflito.
Mohamed Abdelaziz, chefe da Frente Polisário, pediu ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que envie uma missão para proteger os civis saarauís. “Pedimos com urgência o envio de uma missão da ONU a El-Ayoun, ocupada no âmbito das responsabilidades da Organização internacional no Saara Ocidental (…) para garantir a segurança e os direitos dos cidadãos saarauís perante a brutalidade e a violência das forças de ocupação marroquinas”, escreveu em mensagem.
Fonte: site do jornal Brasil de Fato