Especialistas brasileiros discutem relações socioculturais e econômicas entre América Latina e Oriente Médio em encontro no Líbano

Dom, 04/05/2014 - 23:06

Os brasileiros Geraldo Adriano Godoy de Campos, diretor cultural do ICArabe e professor da ESPM, e Alberto da Silva Moreira e Danillo Alarcon, ambos da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC-Goiás, estão entre os especialistas convidados do colóquio internacional “Realidades e Perspectivas Socioculturais e Econômicas na América Latina: Relações com o Líbano e o Oriente Médio”, que será realizado nos dias 15 e 16 de maio, na Universidade Saint-Esprit de Kaslik, no Líbano.

Com coordenação de Hoda Nehmé, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FPSH), e Roberto Khatlab, diretor do Centro de Estudos e Culturas da America Latina (CECAL-USEK), o colóquio será o segundo realizado em âmbito internacional. No primeiro encontro, em 2012, intitulado “As relações entre o Oriente Médio e América Latina: uma década de relações Sul-Sul”, ressaltou as dimensões estratégicas, econômicas, diplomáticas, culturais e políticas entre duas regiões em desenvolvimento que desejam fazer valer suas ideias no cenário internacional, bem como participar ativamente de sua evolução. “O colóquio proposto tem objetivos multidisciplinares que envolvem reflexões sobre os diferentes progressos realizados pelos países latino-americanos e, por outro lado, para melhor explorar e conhecer os fenômenos da emigração e da imigração”, explica Khatlab.

Como ressalta o estudioso, nas últimas décadas, a América Latina passou por um desenvolvimento que mudou a face da região, que até então tinha uma imagem marcada pela miséria, violência, tráfico de drogas e corrupção. “Classificada então como Terceiro Mundo, a América Latina mostra ao mundo atualmente que começa um novo capítulo de sua história, com países emergentes como Argentina, Brasil e México - membros do G20 -, sem nos esquecermos do Chile, Colômbia e Venezuela, que também tiveram avanços importantes”, comenta Khatlab.

A união de blocos regionais já existentes na América Latina expressa-se num projeto chamado “Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC)”. O CELAC foi a primeira tentativa de integração de toda a América Latina. Surgido em dezembro de 2011, em Caracas, na Venezuela, reúne pela primeira vez na história da região 33 Estados, excluindo os Estados Unidos e o Canadá. 

Como Khatlab pontua, os tempos mudaram e a mudança é obra da vontade comum. “De uma América Latina que era uma oportunidade para Europa a uma Europa que se converteu em uma oportunidade para a América Latina. Enfim, o subcontinente parece agora globalmente, na área social, de especificidades próprias às dos países emergentes, uma redução da pobreza e das desigualdades, o aumento da classe média, uma transição demográfica, um crescimento econômico, uma inversão dos fluxos migratórios.”

América Latina, Líbano e Oriente Médio

Entre a América Latina, o Líbano e o Oriente Médio há ligações humanas solidamente construídas, graças às vagas migratórias, explica o Professor Khatlab. “Libaneses,  sírios, palestinos e outros povos do Oriente Médio, como também posteriormente seus descendentes, envolveram-se profundamente na vida latino-americana, seja na esfera social, cultural, política ou econômica.” 

Do mesmo modo, explica, a comunidade líbano-latino-americana constitui uma ponte de ligação entre os povos das duas regiões. “Esta condição humana “migrante” e, por isso mesmo, plural, constitui-se uma janela de oportunidades, que fortifica as relações entre povos, as nações e as gerações das duas regiões. Por outro lado, os países latino-americanos podem ajudar a interceder em interesses comuns em organizações multilaterais como a ONU, como interlocutores de qualidade em matéria política, social, cultural, econômica, pedagógica”, ressalta.

Para o professor Danillo Alarcon (PUC-Goiás), tal encontro é basilar para fomentar o conhecimento mútuo entre as duas regiões, pois, como é reconhecido, a comunidade epistêmica é um dos pilares do processo de cooperação internacional, e ambas as regiões tendem a ganhar com a expansão de suas relações. “Além do mais, sabemos a importância da imigração árabe para o Brasil, em especial a sírio-libanesa, e precisamos refletir sobre as consequências que tal migração tem para a imagem do nosso país na região como um todo, em um momento em que as forças políticas internacionais se transformam e se movimentam rapidamente.”

Essas rápidas transformações do cenário internacional, afirma o especialista, tendem, portanto, a abrir espaço para a atuação de novos atores internacionais relevantes, e unidos. “A América Latina e os países árabes tendem a ter maior peso nos processos negociadores. Sendo assim, é nossa responsabilidade fazer o debate acadêmico e intermediá-lo com a comunidade, para que efetivamente ele gere frutos.”

Em sua participação no colóquio, o diretor cultural do ICArabe, Geraldo Adriano Godoy de Campos abordará a relação entre as regiões sob a ótica do cinema, apresentando seu estudo sobre os múltiplos territórios do espaço cinematográfico: “A Última Estação entre Brasil e Líbano”. A pesquisa analisa o processo da construção do roteiro de Di Moretti para o filme “A Última Estação”, do diretor Marcio Curi. Diversas entrevistas com pessoas da comunidade árabe foram realizadas para a elaboração do roteiro, o que serviu de base para o argumento do trabalho de Godoy de Campos: um roteiro de cinema e um imigrante têm mais em comum do que a gente imagina. O cinema torna-se um elo entre o Brasil e o mundo árabe e, particularmente, o Líbano.

Para conhecer a programação completa, acesse http://www.usek.edu.lb/French/HeaderMenu_french/News_French/Actualites/Les_enjeux_et_perspectives_socioculturels_et_economiques_en_Amerique_latine