Israel: o tsunami que está chegando

Qui, 07/07/2011 - 19:57

 

Israel: o tsunami que está chegandoO ex-primeiro-ministro (e atual ministro da Defesa) Ehud Barak, cuja base política é hoje quase inexistente, adverte que o primeiro ministro Benjamin Netanyahu está sendo irrealista ao querer ignorar a questão do reconhecimento formal da soberania palestina que pode ocorrer na ONU. Barak diz que a resolução vai ser um tsunami em Israel, e que, portanto, seria mais sábio que Netanyahu fizesse alguma tipo de acordo com os palestinos agora, antes que a resolução seja aprovada. Será que Barak tem razão? A resolução vai ser um tsunami para Israel? O artigo é de Immanuel Wallerstein.Immanuel Wallerstein - Esquerda.netOs palestinos estão trabalhando para obter o reconhecimento formal da sua soberania na reunião de outono da Assembleia Geral das Nações Unidas. A sua intenção é solicitar uma declaração de que o Estado existe dentro das fronteiras de 1967. É quase certo que a votação será favorável. A única questão, no momento, é quão favorável.A liderança política israelense está bem ciente disso. Está discutindo três diferentes respostas. A posição dominante parece ser a do primeiro-ministro Netanyahu, que propõe ignorar totalmente a resolução e simplesmente manter as políticas atuais do governo israelense. Netanyahu sabe que a Assembleia Geral das Nações Unidas há muito tempo que adota resoluções desfavoráveis a Israel, que este país tem ignorado com sucesso. Por que seria esta diferente?Há alguns políticos da extrema-direita (sim, há uma posição ainda mais à direita que a de Netanyahu) que dizem que, em represália, Israel devia anexar formalmente todos os territórios palestinos ocupados atualmente e acabar com toda a conversa sobre negociações. Alguns também querem forçar a um êxodo das populações não-judaicas deste estado de Israel expandido.O ex-primeiro-ministro (e atual ministro da Defesa) Ehud Barak, cuja base política é hoje quase inexistente, adverte que Netanyahu está sendo irrealista. Barak diz que a resolução vai ser um tsunami em Israel, e que, portanto, seria mais sábio que Netanyahu fizesse alguma tipo de acordo com os palestinos agora, antes que a resolução seja aprovada.Será que Barak tem razão? A resolução vai ser um tsunami para Israel? Há uma grande possibilidade de que assim seja. Mas não existe praticamente qualquer hipótese de que Netanyahu siga os conselhos de Barak e tente seriamente fazer antes um acordo com os palestinos.Pensem no que provavelmente vai acontecer na própria Assembleia Geral. Sabemos que a maioria dos países da América Latina (talvez todos) e uma percentagem muito grande de países da África e da Ásia vão votar a favor da resolução. Sabemos que os Estados Unidos vão votar contra e tentar persuadir outros a acompanhar essa posição. Os votos incertos são os da Europa. Se os palestinos conseguirem obter um número significativo de votos europeus, a sua posição política ficará muito reforçada.Vão os europeus votar nesta resolução? Depende, em parte, do que aconteça em todo o mundo árabe nos próximos dois meses. Os franceses já sugeriram abertamente que vão apoiá-la, a menos que ocorram progressos significativos nas negociações de Israel com os palestinos (que no momento sequer estão ocorrendo). Se o fizerem, é quase certo que os governos do Sul da Europa se juntem a eles. O mesmo podem fazer os países nórdicos. É uma questão mais em aberto se a Grã-Bretanha, Alemanha e Holanda estão prontas a juntar-se a eles. Se estes países decidirem apoiar a resolução, poderão resolver as hesitações de vários países do leste europeu. Neste caso, a resolução obteria a grande maioria dos votos da Europa.É preciso olhar, portanto, para o que está acontecendo no mundo árabe. A segunda revolta árabe ainda está em pleno andamento. Seria temerário prever exatamente quais regimes vão cair e quais vão aguentar firmemente nos próximos dois meses. O que parece claro é que os palestinos estão à beira de desencadear uma terceira intifada. Mesmo os mais conservadores entre os palestinos parecem ter perdido a esperança de que possa haver um acordo negociado com Israel. Esta é a mensagem clara do acordo entre a Fatah e o Hamas. E dado que as populações de praticamente todos os estados árabes estão em revolta política direta contra os seus regimes, como poderiam os palestinos permanecer relativamente tranquilos? Não vão ficar quietos.E se não ficarem quietos, o que vão fazer os outros regimes árabes? Todos eles estão passando por grandes dificuldades, para dizer o mínimo, para controlar as revoltas nos seus próprios países. Apoiar ativamente uma terceira intifada seria a posição mais fácil de tomar, como parte do esforço de recuperar o controle do seu próprio país. Que regime se atreveria a não apoiar a terceira intifada? O Egito já mudou claramente nesta direção. E o rei Abdullah da Jordânia deu a entender que também ele o pode fazer.Imaginem então a sequência: uma terceira intifada, seguida pelo apoio árabe ativo, seguida pela intransigência do governo israelense. Que farão então os europeus? É difícil vê-los a recusar-se a votar a favor da resolução. Poderíamos facilmente chegar a uma votação com apenas os votos contra de Israel, dos Estados Unidos, e de uns poucos pequenos países, e talvez umas poucas abstenções.A mim, isto soa como um possível tsunami. O maior medo de Israel nos últimos anos tem sido a “deslegitimação”. Não seria uma votação como essa precisamente um processo de deslegitimação? E não irá o isolamento dos Estados Unidos nesta votação enfraquecer ainda mais a sua posição no mundo árabe como um todo? O que farão então os Estados Unidos?(*) Tradução, revista pelo autor, de Luis Leiria para o Esquerda.net

O ex-primeiro-ministro (e atual ministro da Defesa) Ehud Barak, cuja base política é hoje quase inexistente, adverte que o primeiro ministro Benjamin Netanyahu está sendo irrealista ao querer ignorar a questão do reconhecimento formal da soberania palestina que pode ocorrer na ONU. Barak diz que a resolução vai ser um tsunami em Israel. 

Os palestinos estão trabalhando para obter o reconhecimento formal da sua soberania na reunião de outono da Assembleia Geral das Nações Unidas. A sua intenção é solicitar uma declaração de que o Estado existe dentro das fronteiras de 1967. É quase certo que a votação será favorável. A única questão, no momento, é quão favorável.

A liderança política israelense está bem ciente disso. Está discutindo três diferentes respostas. A posição dominante parece ser a do primeiro-ministro Netanyahu, que propõe ignorar totalmente a resolução e simplesmente manter as políticas atuais do governo israelense. Netanyahu sabe que a Assembleia Geral das Nações Unidas há muito tempo que adota resoluções desfavoráveis a Israel, que este país tem ignorado com sucesso. Por que seria esta diferente?

Há alguns políticos da extrema-direita (sim, há uma posição ainda mais à direita que a de Netanyahu) que dizem que, em represália, Israel devia anexar formalmente todos os territórios palestinos ocupados atualmente e acabar com toda a conversa sobre negociações. Alguns também querem forçar a um êxodo das populações não-judaicas deste estado de Israel expandido.

O ex-primeiro-ministro (e atual ministro da Defesa) Ehud Barak, cuja base política é hoje quase inexistente, adverte que Netanyahu está sendo irrealista. Barak diz que a resolução vai ser um tsunami em Israel, e que, portanto, seria mais sábio que Netanyahu fizesse alguma tipo de acordo com os palestinos agora, antes que a resolução seja aprovada.

Será que Barak tem razão? A resolução vai ser um tsunami para Israel? Há uma grande possibilidade de que assim seja. Mas não existe praticamente qualquer hipótese de que Netanyahu siga os conselhos de Barak e tente seriamente fazer antes um acordo com os palestinos.

Pensem no que provavelmente vai acontecer na própria Assembleia Geral. Sabemos que a maioria dos países da América Latina (talvez todos) e uma percentagem muito grande de países da África e da Ásia vão votar a favor da resolução. Sabemos que os Estados Unidos vão votar contra e tentar persuadir outros a acompanhar essa posição. Os votos incertos são os da Europa. Se os palestinos conseguirem obter um número significativo de votos europeus, a sua posição política ficará muito reforçada.

Vão os europeus votar nesta resolução? Depende, em parte, do que aconteça em todo o mundo árabe nos próximos dois meses. Os franceses já sugeriram abertamente que vão apoiá-la, a menos que ocorram progressos significativos nas negociações de Israel com os palestinos (que no momento sequer estão ocorrendo). Se o fizerem, é quase certo que os governos do Sul da Europa se juntem a eles. O mesmo podem fazer os países nórdicos. É uma questão mais em aberto se a Grã-Bretanha, Alemanha e Holanda estão prontas a juntar-se a eles. Se estes países decidirem apoiar a resolução, poderão resolver as hesitações de vários países do leste europeu. Neste caso, a resolução obteria a grande maioria dos votos da Europa.

É preciso olhar, portanto, para o que está acontecendo no mundo árabe. A segunda revolta árabe ainda está em pleno andamento. Seria temerário prever exatamente quais regimes vão cair e quais vão aguentar firmemente nos próximos dois meses. O que parece claro é que os palestinos estão à beira de desencadear uma terceira intifada. Mesmo os mais conservadores entre os palestinos parecem ter perdido a esperança de que possa haver um acordo negociado com Israel. Esta é a mensagem clara do acordo entre a Fatah e o Hamas. E dado que as populações de praticamente todos os estados árabes estão em revolta política direta contra os seus regimes, como poderiam os palestinos permanecer relativamente tranquilos? Não vão ficar quietos.

E se não ficarem quietos, o que vão fazer os outros regimes árabes? Todos eles estão passando por grandes dificuldades, para dizer o mínimo, para controlar as revoltas nos seus próprios países. Apoiar ativamente uma terceira intifada seria a posição mais fácil de tomar, como parte do esforço de recuperar o controle do seu próprio país. Que regime se atreveria a não apoiar a terceira intifada? O Egito já mudou claramente nesta direção. E o rei Abdullah da Jordânia deu a entender que também ele o pode fazer.

Imaginem então a sequência: uma terceira intifada, seguida pelo apoio árabe ativo, seguida pela intransigência do governo israelense. Que farão então os europeus? É difícil vê-los a recusar-se a votar a favor da resolução. Poderíamos facilmente chegar a uma votação com apenas os votos contra de Israel, dos Estados Unidos, e de uns poucos pequenos países, e talvez umas poucas abstenções.

A mim, isto soa como um possível tsunami. O maior medo de Israel nos últimos anos tem sido a “deslegitimação”. Não seria uma votação como essa precisamente um processo de deslegitimação? E não irá o isolamento dos Estados Unidos nesta votação enfraquecer ainda mais a sua posição no mundo árabe como um todo? O que farão então os Estados Unidos?

(*) Tradução, revista pelo autor, de Luis Leiria para o Esquerda.net
Fonte: Agência Carta Maior