Vigília em São Paulo reúne movimentos de apoio à Palestina

Sex, 18/07/2014 - 10:39
Com velas acesas, intervenções de poesia, música, vídeo e oração, membros da comunidade árabe e simpatizantes da causa palestina prestaram homenagens em São Paulo aos mortos pelo bombardeio israelense contra a Faixa de Gaza.

A iniciativa teve a intenção de chamar atenção sobre o que está acontecendo naquela região, que sofre bombardeios diários por Israel, como explica Helena Manfrinato, do Movimento Palestina para Tod@s (MOP@T), que organizou a vigília. “Estamos reivindicando os direitos humanos dos palestinos, seu status de cidadania. Eles vivem numa situação terrível. Eles não têm nenhum tipo de estrutura mais sólida que os proteja dos israelenses.”

O local escolhido para o ato também tem um significado importante, conforme ressalta Helena. “A praça é uma homenagem à criação do estado de Israel. E justamente a criação do estado de Israel significou a catástrofe para a população palestina. Eles foram perseguidos e expulsos. Então esse lugar é simbólico. É para marcar nossa posição e a importância de lembrarmos do sofrimento do povo palestino.”

Desde que teve início a nova onda de ataques por Israel a Gaza, em 7 de julho, mais de 200 palestinos foram mortos e cerca de 1.500 ficaram feridos, a maioria mulheres e crianças. É a maior ofensiva de Israel em Gaza desde final de 2008 e início de 2009. Não se trata de um evento isolado, nem de uma guerra. É mais um capítulo da limpeza étnica do povo palestino, iniciada há 66 anos, quando da criação do Estado de Israel em terras palestinas. Nesta quinta-feira, o exército de Israel iniciou uma invasão por terra em Gaza. 

A estreita faixa de Gaza é a área mais densamente povoada do mundo. São 1,5 milhão de habitantes em apenas 360km2. Enfrenta um bloqueio assassino por parte de Israel que a torna o maior campo de concentração a céu aberto. Sob o falso pretexto de defesa, Israel promove uma punição coletiva que é um verdadeiro genocídio. Os fatos desmontam esse argumento: trata-se de território palestino, ocupado por Israel em 1967, e o direito de resistência nessas condições é legítimo. 

Na Cisjordânia, também ocupada, os palestinos também enfrentam neste momento punição coletiva, sob outra forma: demolição de casas, prisões políticas em massa e perseguição de colonos/soldados extremistas que ali vivem ilegalmente. Caso emblemático é do jovem palestino que foi queimado vivo após tortura. As mortes de três jovens soldados/colonos israelenses, usadas como justificativa para mais essa ofensiva, não têm qualquer comprovação de autoria, em circunstâncias ainda não esclarecidas. Esses colonos foram colocados lá por Israel para dar continuidade ao projeto de colonização e apartheid israelenses. A cultura do ódio tem sido usada por Israel, para manter a ocupação. Portanto, o único responsável por sua morte é Israel.

Marcas da violência

Taisir Fattach, 52, é palestino e vive no Brasil há 24 anos. Traz no corpo e na memória as marcas da tortura sofrida, ainda na adolescência, quando foi preso pelos israelenses. Mais tarde, aos 25, participou do primeiro levante popular palestino contra a ocupação israelense. Ficou preso por oito meses e foi novamente torturado. “Tive um primo morto por um soldado israelense. Ele morreu no meu colo. Sempre ficam as lembranças. Disso nunca vou me esquecer.”

Para Taisir, que veio de Franco da Rocha com o filho para dar sua contribuição, a vigília tem grande valor simbólico. “Isso, infelizmente, não vai libertar os palestinos. Não vai parar os ataques israelenses contra Gaza. Mas é um evento louvável, eu apoio. Vim de longe só para participar. Para juntar os meus irmãos brasileiros, os amantes da liberdade, defensores da justiça e da causa palestina.”

O filho de Taisir, Akram Tayser Fattash, 20, nasceu no Brasil, mas é também cidadão palestino. Tem dupla cidadania e já visitou a região. Estudante de Medicina, ele quer um dia ajudar de alguma maneira o povo palestino. “Quando terminar meus estudos e começar a trabalhar, gostaria muito de ir para Gaza, oferecer ajuda para o meu povo. Ficaria muito feliz se pudesse ajudar”, disse o jovem.

Apoio das Mães de Maio

Entre os coletivos que apoiam a Palestina, está o Movimento Mães de Maio. Segundo a fundadora e coordenadora, Débora Maria da Silva, a dor de uma mãe é igual em qualquer lugar do mundo e por isso a adesão à causa. “A gente vê mães sofrendo com seus filhos sendo retirados de suas casas, sendo espancados, executados pelo exército de Israel. Não cabe na cabeça de uma mãe ver um filho sofrer. Os filhos da Palestina são filhos das Mães de Maio brasileiras. A dor é a mesma”, afirmou Débora, que teve o filho morto, pela PM paulista há oito anos.

Débora faz um paralelo entre a situação do povo brasileiro e a do palestino. Não há, segundo ela, diferenças entre os dois, quando se trata de liberdade e de opressão aos menos favorecidos. “Aderimos ao Movimento Palestina Livre porque também queremos ser livres. Nós não somos. A guerra é a mesma. É guerra contra pobre. É uma guerra fascista, pois um lado tem o armamento e outro não tem”, pontua.

Essa adesão ao povo palestino, acrescenta, é uma obrigação. “Israel é um estado que rouba as terras da Palestina e dá legitimidade à base do exercito. A mesma coisa é a periferia com a Polícia Militar no Brasil. Eles têm as armas, o poder de fogo. No Brasil se mata mais que em uma guerra”, critica.

Para ela, a mídia também tem sua parcela de culpa, pois não mostra o que realmente acontece. “Não há guerra se um lado está desarmado e outro preparado, mas sim um genocídio que temos que combater. Somos mães. Nós geramos a vida.”

Mais um encontro neste sábado

Organizações e movimentos unificados em defesa do povo palestino promoverão, no dia 19 de julho, sábado, às 14h, em frente ao Consulado do Estado de Israel, um ato de protesto contra o massacre de Gaza e em solidariedade à população que resiste aos bombardeios e ataques cruéis das forças de ocupação. 

As organizações e movimentos em defesa do povo palestino consideram fundamental incrementar a solidariedade internacional neste momento e mantê-la mesmo após o fim dos bombardeios. No Brasil, a estratégia é intensificar a campanha global de BDS (boicotes, desinvestimento e sanções) a Israel. O País tem ampliado os acordos militares com Israel, tecnologia usada nos verdadeiros laboratórios humanos que se converteram os palestinos em Gaza e adquirida para a repressão sobretudo da população jovem, pobre e negra no Brasil. 

Como resposta à ocupação e aos crimes que estão sendo testemunhados mundialmente através das mídias e redes sociais, as organizações e movimentos em defesa do povo palestino em São Paulo alertam que é preciso isolar econômica e politicamente Israel.

Por uma Palestina livre, com retorno dos milhares de refugiados às terras e casas de onde foram expulsos, as organizações e movimentos exigem:

. Fim imediato dos ataques a Gaza!

. Derrubada do muro do apartheid!

. Que o governo brasileiro rompa imediatamente as relações militares, comerciais e diplomáticas com Israel!

. Palestina Livre!!!

 

Ato Unificado - São Paulo pela Palestina

Neste sábado, 19 de julho

A partir das 13h - Concentração em frente à Globo, na Rua Chucri Zaidan, 46, perto da estação Berrini de trem

14h - Ato em frente ao Consulado de Israel