Palestina promove turismo religioso no Brasil

Seg, 09/09/2013 - 12:51
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O país participou, na semana passada, da 41ª Feira de Turismo das Américas, organizada pela Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), no Pavilhão de Exposições do Anhembi. Também esteve presente no encontro de negócios entre operadores estrangeiros e brasileiros do setor do turismo, promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira, no último dia 2.

Adel Auada, vice-presidente administrativo da Câmara Árabe e membro do Conselho Fiscal do ICArabe, ressaltou a disposição da Palestina em participar do congresso no Brasil, “apesar das dificuldades”, e acrescenta que há muitos turistas em busca desse roteiro. “O turismo é um dos grandes negócios do mundo e a Palestina sempre teve ótimos profissionais neste sentido. Isso é bom porque gera empregos e renda, além de movimentar a economia. E o circuito da Terra Santa sempre foi muito procurado para peregrinação por brasileiros de diferentes religiões.”

Segundo o presidente da HLITOA, Sami Abu Dayyeh, do total de 3,5 milhões de turistas que fazem o roteiro, 1,2 milhão são turistas culturais e peregrinos. E 40% dos que fazem viagens religiosas na região vão pelas agências palestinas.

A Câmara Árabe aposta no crescimento do turismo brasileiro para a região. O diretor-geral da Câmara, Michel Alaby, ressalta que, nos últimos 12 meses, dez novas companhias aéreas começaram a voar para o Brasil ou iniciaram novos voos. “Isso inclui as árabes Etihad, Emirates e Qatar Airways. Na feira da Abav, por exemplo, 60% dos expositores promovem destinos internacionais.”

Ibrahim Alzeben, embaixador da Palestina e decano do Conselho dos Embaixadores Árabes em Brasília, que também esteve no encontro na Câmara Árabe, ressaltou que as operadoras associadas à HLITOA também levam turistas a países vizinhos, como Síria, Iraque e Jordânia. “Nossa presença é para informar o público que servimos os peregrinos há centenas de anos. Há hotéis na Palestina que são melhores que os que vocês têm aqui, pois os peregrinos estão dispostos a pagar mais”, afirmou Dayyeh. Ele conta ainda que há três hotéis cinco estrelas em Ramallah. 

Entre as agências que oferecem viagens à Palestina está a Lynden Operadora de Turismo. O diretor da empresa, Khaled Fayez Mahassen, apresenta seu roteiro com as três principais cidades turísticas genuinamente palestinas, segundo ele: Ramallah, Jericó e Nablus. “Nossos passageiros descem na Jordânia e seguem por terra para Ramallah. No caminho pela Terra Santa, entre uma cidade e outra, o turista terá contato com a cultura, a arquitetura, a gastronomia de um lugar que carrega em si um grande valor histórico.”

Ramallah, Jericó e Nablus situam-se ao norte da Palestina e pertencem a uma pequena porção da Terra Santa. Ramallah é o centro político-econômico da região e vive um momento de prosperidade com a inauguração recente de lojas e bares. Nestes ambientes, o turista vai comer bem e se divertir. Em Jericó, situada às margens do rio Jordão, o visitante poderá conhecer mosteiros, mesquitas e sítios históricos. Cidade antiga, bíblica, fundada pelos romanos há quase dois milênios, Nablus carrega um importante significado para muçulmanos e cristãos.

Mahassen, porém, enfatiza as dificuldades que palestinos e seus descendentes enfrentam para entrar no país, devido ao controle israelense, inclusive no aeroporto de Tel Aviv. Ele afirma que qualquer pessoa que entra na Palestina está sujeita a passar pela situação. “Se implicarem com alguém, deixam por horas na fronteira”. O empresário informa que muitos turistas brasileiros não têm passado por esses problemas, mas os palestinos que possuem passaportes brasileiros são tratados como tal até serem identificados como palestinos. Nesses casos, são submetidos ao questionário.

Segundo ele, as operadoras de turismo nada podem fazer para mudar este cenário, cujas causas políticas impedem qualquer possibilidade de ação. “Enquanto a Palestina não tiver aeroporto próprio e uma autonomia total como Estado, os palestinos e seus descendentes continuarão sofrendo, e os turistas aceitando este controle”.

Para Arturo Hartman, jornalista, autor do blog “O Território”, que viajou três vezes à Palestina (passou cinco meses em 2010 e três meses em 2013) e dirigiu o documentário “Sobre Futebol e Barreiras”, um olhar sobre Palestina/Israel, a verdade é que estrangeiros podem sim passar por uma revista mais longa e desgastante. “Claro, não da mesma forma que um palestino. Mas descendentes de árabes ou pessoas com quem eles impliquem, passam por um processo de revista.” (veja abaixo o depoimento).

Para mais informações sobre os destinos turísticos na Palestina, acesse:

www.holylandoperators.com

http://lynden.com.br/wp-manual/

Dificuldades para palestinos e turistas

Por Arturo Hartmann

“O trajeto de entrada na Palestina traz em si muitas dificuldades, claro, aos palestinos, e também a turistas. Se você desce em Amã, a passagem da Jordânia para o Território Ocupado da Palestina, na Cisjordânia, é controlada por Israel. Lá, há a chance de você ser interrogado como um ativista, e passar por horas de perguntas e checagem. Eu, particularmente, passei 12 horas nesse posto quando fui para a Palestina. E vi uma mulher palestina ser recusada, chorando em frente ao soldado. Claro, é o primeiro ponto de contato com a ocupação.

O problema de programas de turismo no caso da Palestina é que ele pode normalizar a ocupação. Isso deve ser uma preocupação. É importante que mais pessoas viajem e observem o que acontece na Palestina. Mas o que Israel faz em lugares como Jerusalém Oriental e Bethlehem é realizar passeios turísticos ocultando a ocupação, mesmo não revelando o fato de que os turistas estão entrando na Palestina ocupada, por exemplo, quando vão a Jerusalém Oriental, a Bethlehem ou a Hebron. Por um lado é importante que os palestinos façam esse trajetos, que guias palestinos possam orientar os turistas e guiar os passeios no lugar de um guia israelense. Eles podem contar o que é o dia a dia da estar em um Território Ocupado. Belém está rodeada pelo Muro que invade a Cisjordânia. Hebron tem exércitos e colonos, e todo um sistema de restrição de movimento a palestinos, no que é o principal ponto turístico da cidade. Em um dia, pode se ter que visitar sítios históricos em meio a protestos de palestinos contra as forças de ocupação. Ou de restrição de movimento, dependendo de como estiver a situação. Um outro problema, e esta é a armadilha, é que o guia palestino ou um programa da Autoridade Palestina possa fazer o mesmo, consolidar essa normalização. Digo, procurar vender passeios turísticos entremeados à ocupação, sem abordá-la, sem esclarecê-la. A Autoridade hoje tem a sua própria agenda, que envolve diplomacia e fazer a economia funcionar sem combater a ocupação israelense.

Há que se tomar cuidado ainda com a exaltação que as pessoas muitas vezes fazem de Ramallah. De fato, você pode aproveitar noites, comer, enfim, fazer coisas que normalmente faria em uma viagem turística. Mas, por um lado, ela se levantou como um dos elementos da farsa de Oslo, uma economia movimentada por ajuda internacional e um controle econômico exercido por Israel, que pode pressionar a Autoridade a qualquer momento. E é importante que a pessoa viaje para outras cidades, ver a desigualdade de investimento entre as cidades palestinas. Mesmo Nablus, a maior cidade, não tem a paisagem urbana desse proclamado desenvolvimento. Uma outra questão é que a passagem de uma cidade para outra está controlada por postos de controle. O controle pode ser apertado ou afrouxado dependendo da vontade de Israel.

Apesar das dificuldades, é importante que as pessoas viajem à Palestina e que iniciativas sejam incentivadas. O problema é a agenda que leva a pessoa para lá. É importante que a ida à Palestina informe as pessoas sobre o que acontece lá. Os problemas não acontecem somente na entrada, ou seja, depois que se entra. É importante que as pessoas saibam o que acontece, mesmo que seja em uma viagem turística. É um problema, por outro lado, que algumas realidades sejam ocultadas, o que pode consolidar uma situação problemática, que pode ser confortável para alguns políticos palestinos e, claro, para a ocupação israelense, mas não para a população palestina.”